Eram 22h,
dirigi-me para a casa de banho e liguei a torneira da água quente, no máximo.
Na banheira coloquei gel de banho, para formar espuma. De seguida, comecei a
despir-me: retirei o blusão azul, o básico azul mais intenso, o soutien castanho estampado a verde, as
calças verdes estampadas com flores azuis e roxas, as meias cor de rosa e as
cuecas pretas. Depois de já estar completamente despida penetrei na espuma que
boiava sobre a água quente. À medida que ia imergindo na água, o meu pensamento
abstraia-se do real. Naquele momento, todo o meu pensamento se concentrava num
só momento - o momento perfeito:
Lá estava eu,
sentada, na habitual manta magenta, no meio da relva. Quando lá cheguei, ao pé
da enorme raiz de um carvalho velho e apodrecido, reparei que havíamos deixado
para trás, na passada tarde, vestígios da nossa presença ali. Será que alguém
dera por isso? Penso que não, se alguém o tivesse feito já teríamos sido
descobertos, o que não poderia acontecer, de modo algum! Corri para junto da
raiz e apanhei o papel de embrulho esbranquiçado, coloquei-o de imediato dentro
da mala. Nesse instante, recordei o nosso último encontro - cheguei atrasada, o
que não era habitual, aproximei-me de ti e pedi-te imensas desculpas pelo
atraso, retorquiste de imediato (quase nem me deixando acabar): “Tive medo que
não viesses, temi que já não quisesses mais estar comigo!”, não deixando de me
envolver, abracei-me a ti e deixei que o desejo com que me olhavas me
penetrasse; nada fora em vão! Colocaste a tua mão na minha face, fazendo-me
carícias. Por momentos, senti-me realizada, completa… Tu tinhas (e continuas a
ter) esse poder em mim! Senti uma enorme onda de prazer. Quando dei por mim, os
nossos lábios já se tocavam. Aquele beijo era como fogo! Assim que afastei as
tuas mãos da minha face, olhaste-me, confuso…
- Que se passa? - perguntaste, sem
perceber o porquê do meu gesto.
- Não me sinto capaz de continuar com
isto! - retorqui, cabisbaixa.
- Já não gostas de mim?
- Se eu gosto de ti? Mas é claro que
gosto, e muito! Achas que se não gostasse teria aceite isto: encontrar-me
contigo, às escondidas de todos?
- Não sei… Pela maneira que me olhas,
parece que já não crês naquilo que nos une.
- Sabes bem que não é isso. Duvido sim,
mas daquilo que me dizes… daquilo que afirmas sentir!
- E porque duvidas tu, de mim?
- Porque duvido, eu, de ti? Porque
não és capaz de encarar a realidade a dois, não és capaz de admitir aquilo que
sentes… isto é, se o sentires de facto!
- Não percebo… Já te disse que gosto
de ti e estou aqui, contigo. Que queres mais?
- Quero que não tenhas vergonha de
mim, quero que acredites naquilo que me dizes.
- É complicado… Já sabes disso, desde
o início.
- O que é que é complicado? O facto
de teres vergonha de mim, ou daquilo que sentes?
- Não! A sociedade onde nós vivemos é
que é complicada, e muito!
- Importas-te assim tanto com a
opinião dos outros?
- É claro que me importo, tu não?
- Eu importo-me, sobretudo, com
aquilo que eu quero! O que os outros dizem, pouco ou nada altera a minha visão
sobre as coisas, sobre o mundo.
- Gostava de pensar assim, como tu…
mas, não me sinto capaz…
- Não te sentes capaz de quê? De
aceitar os teus próprios sonhos?! É pena…
- Eu aceito os meus sonhos, não
consigo é lutar pelos meus objetivos.
- É triste quando alguém se auto
destrói, sem tentar, pelo menos, alcançar a meta…
- Eu já tentei, e falhei! Queres
saber o que temo, na realidade?
- Diz lá… Já não tenho nada a perder.
- Temo não conseguir dar-te aquilo
que queres; temo não me conseguir auto realizar; temo, acima de tudo,
magoar-te!
- Magoada, já eu estou…
- Era disto que eu tinha medo! Nunca
te quis magoar…
- Já o fizes-te…
- E agora, que posso eu fazer?
- Tu, nada… Eu é que não deveria ter
aceite isto. Ao fazê-lo estava a iludir-me…
- Jessica, olhas para mim? -
colocaste, novamente, as tuas mãos na minha face e fizes-te com que te olhasse
nos olhos.
- Já estou a olhar… - deixei escapar
uma lágrima.
- Porque choras? - olhaste-me bem no
interior do meu ser, preocupado.
- Porque, mesmo magoada, não deixo de
te admirar… não me sinto capaz para deixar de gostar de ti. Apesar de tudo,
sempre me tratas-te bem… sempre me fizes-te sentir confortável e,
completamente, à vontade quando estou contigo.
- Continuo a dizer-te que és
especial, que és importante e que gosto muito de ti! - abraçaste-me com imensa
força, como se fosse tua pertencente.
- Não percebes que é isso mesmo que
me magoa? Que é o facto de me dizeres isso tudo e de agires de formas que nem
eu percebo que me transtornam? - pela primeira vez, consegui desfazer o abraço
que me prendia a ti.
- Mas é o que eu sinto, é a verdade…
não consegues compreender isso?
- Compreender, até consigo!
- Então, para que é isto tudo?
- Para ficares a saber que não me és
nada indiferente!
- Mas já o sei, há muito tempo… -
limpaste-me as lágrimas que circundavam os meus olhos, beijando-me, levemente,
a face rosada.
- Obrigada por me fazeres sentir bem.
- abracei-te.
- Já quase me esquecia… -
aproximaste-te da tua mala e tiras-te de lá um embrulho, meio amarrotado.
- O que é isto? - peguei no embrulho
e olhei-o, por completo.
- É para ti, para nós, abre…
Comecei a desembrulhar até que fiquei
apenas com uma caixinha nas mãos. Olhaste-me, novamente, e pediste-me que
abrisse a caixa, assim o que fiz. Ao abrir a caixa, não queria acreditar no que
os meus olhos viam…
- O que significa isto? - fiquei
admiradíssima com o conteúdo da caixa.
- Significa que és tão importante
para mim como todos os momentos que passámos juntos, seria incapaz de me
esquecer deles…
- Queres que ta ponha? - peguei numa
das pulseiras, ambas tinham a raiz de um carvalho gravada.
- Sim, claro que sim.
De seguida, pegaste-me na mão e
puseste a outra pulseira. Agora, estávamos ligados. A tarde já havia acabado,
tínhamos de ir embora. Na relva ficou, solitário, o papel de embrulho. -, um
encontro que jamais esquecerei. Já sentada, comecei a ler o romance que trazia
na mala.
Respirei fundo e
retirei a cabeça da imensidão branca, da espuma… a água já estava fria, como se
nunca estivesse estado quente. Ausentei-me da banheira e retirei do toalheiro
duas toalhas, uma para o corpo e outra para o cabelo. Embrulhei o cabelo na
toalha mais pequena e cobri-me com a outra. No preciso momento em que me olhei
ao espelho, reparei que tinha a cara lavada em lágrimas. No meio de tanta tristeza,
soltei um sorriso! Um sorriso que valerá agora, e sempre, mais que ouro; um
sorriso que simboliza a junção de duas almas, mentalmente (como sempre).
Desculpa ter escrito isto, mas estava
mesmo a precisar. Tudo aquilo que eu sempre quis foi ter-te como amigo e bem,
nem isso eu consegui…
Um sorriso te pura felicidade. Já é tão bom só ver sorrir... E quando se contagia? Hum! Delicia!
ResponderEliminarUm beijinho *
És tão querida, minha linda :$
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